

O Vale do Submédio do São Francisco (VSF) já vinha se destacando como celeiro nacional de uvas de mesa, mas agora pesquisadores da Embrapa Uva e Vinho, em parceria com a Embrapa Semiárido e o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), apresentam ao mercado a cultivar BRS 54 Lumiar.
Além de oferecer sabor especial e maior teor de açúcares, a BRS 54 Lumiar resolve um problema histórico dos produtores nordestinos: a dificuldade de encontrar variedades que em o clima quente e seco sem perder qualidade. Com ciclo curto, apenas cerca de 100 dias da poda à colheita , ela possibilita até 2,4 safras por ano, elevando a produtividade e garantindo oferta constante ao mercado interno e externo.
Uvas sem sementes: tecnologia no seu prato
Resultado do cruzamento entre ‘BRS Isis’ e ‘CNPUV 885-269’, a BRS 54 Lumiar combina apirenia (ausência de sementes) com cachos bem estruturados de tamanho médio e bagas alongadas (18 × 31 mm). Esses atributos reduzem o desperdício e diminuem o tempo de preparo na mesa do consumidor, aspectos valorizados tanto em lares quanto em redes de food service.

Outro destaque é seu teor de 17 a 20 °Brix, conferindo doçura marcante sem comprometer a acidez (0,5 a 0,7 % de ácido tartárico). Essa relação açúcares/acidez, superior a 30, proporciona equilíbrio gustativo raro em uvas brancas de clima tropical. Para o produtor, a firmeza da casca e a resistência ao corte significam menor perda pós-colheita, permitindo até 40 dias de armazenamento refrigerado sem prejuízo de sabor ou aparência.
Benefícios extras que cabem num cacho
- Produtividade elevada: manejo adequado pode alcançar 50 a 60 t ha⁻¹ ano⁻¹.
- Ciclo superprecoce: colheitas sucessivas em intervalos curtos, elevando receitas.
- Menos trabalho de raleio graças à compacidade intermediária dos cachos.
- Boa resposta a reguladores de crescimento; poucas aplicações de GA₃ são suficientes para otimizar o tamanho das bagas.
- Compostos funcionais (catequina, resveratrol e ácido clorogênico) adicionam valor nutricional.
- Oferta regular de uvas brancas de qualidade em períodos tradicionalmente vazios no mercado.

Apesar dos pontos positivos, é preciso atenção: a BRS 54 Lumiar é suscetível ao míldio e ao cancro bacteriano. O uso de cobertura plástica nos períodos chuvosos, aliado ao monitoramento fitossanitário, ajuda a minimizar riscos.
Sustentabilidade e futuro da vitivinicultura nordestina
A introdução dessa cultivar fortalece a visão de uma viticultura mais sustentável no semiárido. Seu vigor moderado permite espaçamentos adensados (1,50 × 3,50 m), reduzindo consumo de água por planta em sistemas de irrigação localizada, essencial em uma região onde a precipitação anual raramente ultraa 500 mm. Ao mesmo tempo, o ciclo curto diminui a necessidade de insumos, refletindo menor pegada de carbono por quilo de fruta produzida.
Além disso, a BRS 54 Lumiar estimula cadeias locais de valor. Viveiristas licenciados pelo Registro Nacional de Sementes e Mudas (Renasem) já comercializam mudas certificadas, gerando emprego e renda nas cidades de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA). A difusão da cultivar ainda integra esforços das universidades regionais, como a Univasf, que oferecem capacitação sobre manejo, irrigação e pós-colheita a agricultores familiares e médios produtores.
BRS 54 Lumiar, portanto, não é apenas uma nova variedade; é símbolo de como ciência, parcerias institucionais e adaptação climática podem se juntar para impulsionar o agronegócio e oferecer ao consumidor uma experiência de sabor, e de futuro, incomparável.
Referência da notícia
BRS 54 Lumiar: Nova cultivar de uva apirênica de sabor especial e manejo fácil para o Vale do São Francisco (Circular Técnica No. 169). Maio, 2025. Embrapa Uva e Vinho.